segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Leon Tolstói, o escritor e pacifista russo que foi o mestre de Gandhi




Leon Tolstoi o gênio que foi o mestre de Mahatma Gandhi Pacifismo Não violência





Amigos do site Psicologia Racional,


Existe um escritor que, além de grande romancista, foi um grande filósofo pacifista.


Pouco divulgado no Brasil atual, Leon Tolstói é um destes seres humanos cuja a vida valeu a pena. 


Ler seus livros e, principalmente, conhecer suas ideias é acender uma luz dentro de nossa consciência.


Gandhi disse que foi baseado nas ideias dele que encontrou a melhor forma de enfrentar o Império Britânico e conquistar a independência da Índia. Estes ideais são: não-violência, desobediência civil, simplicidade e naturalismo.

Leon viveu uma vida simples, divulgando ideias revolucionárias, ensinando os camponeses a importância dos estudos, enfrentando a Igreja (foi excomungado) e os poderosos. Tornou-se um dos homens mais admirados da Russia do seu tempo.

Já maduro, percebeu que o ápice da felicidade se atinge ao servir ao próximo. Viveu uma vida simples e dinâmica (para servir ao próximo é necessário ser dinâmico). Esta capacidade de agir sobre a sociedade, recusando-se a dar prioridade ao dinheiro, orgulho e poder é que cria o indivíduo livre e forte.

Ele viveu intensamente. Faleceu deixando uma mensagem de que a transformação do mundo será conquistada através da ação social e também da transformação pessoal de cada um. Esta dupla "perna" para a mudança (mudar por dentro - com boas ideias - e agir por fora) foi o ideal que incentivou Gandhi na sua cruzada.


Abaixo transcrevo um texto do Leonardo Boff a respeito de seu centenário de falecimento.


"Ocupando lugar central da sala de estar de minha casa há impressionante quadro de um pintor polonês mostrando Tolstói (1828-1910) sendo abraçado pelo Cristo coroado de espinhos. Ele está vestido como um camponês russo e parece extuado como a simbolizar a humanidade inteira chegando finalmente ao abraço infinito da paz depois de milhões de anos ascendendo penosamente o caminho da evolução. Foi um presente que recebi do então Presidente da Assembleia da ONU Miguel Escoto Brockmann, grande devoto do pai do pacifismo moderno.

No dia 20 de novembro celebrou-se o centenário de sua morte em 1910. Ele merece ser recordado não só como um dos maiores escritores da humanidade com seus romances Guerra e Paz (1868) e Anna Karenina (1875) entre outros tantos, perfazendo 90 volumes, mas principalmente como um dos espíritos mais comprometidos com os pobres e com a paz, considerado o pai do pacifismo moderno. Para nós teólogos, conta especialmente o livro O Reino de Deus está em vós escrito depois de terrível crise espiritual quando tinha 50 anos (1978). Frequentou filósofos, teólogos e sábios e ninguém o satisfez. Foi então que mergulhou no mundo dos pobres. Foi ai que redescobriu a fé viva "aquela que lhes dava possibilidade de viver". Tolstói considerava esta obra a mais importante de tudo o que escreveu. Saiu no Brasil pela Editora Rosa dos Tempos (hoje Record) em 1994, com bela introdução de Frei Clodovis Boff, mas infelizmente esgotada (na internet existe uma versão em versão PDF).


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O Reino de Deus está em vós, logo traduzido em várias línguas, teve enorme repercussão, gerando aplausos e acirradas rejeições. Mas a maior influência foi sobre Gandhi. Mergulhado também em profunda crise espiritual, acreditando ainda na violência como solução para os problemas sociais, leu o livro em 1894.


Causou-lhe uma abissal comoção:"a leitura do livro me curou e fez de mim um firme seguidor da ahimsa (não violência)". Distribuía o livro entre amigos e o levou para a prisão em 1908 para meditá-lo. O apóstolo da "não-violência ativa" teve como mestre a Leon Tolstói. Este foi excomungado pela Igreja Ortodoxa e o livro vetado pelo regime czarista.

Qual a tese central do livro? É a palavra de Cristo: "Não resistais ao mal" (Mt 5,39). O sentido é: "Não resistais ao mal com o mal". Ou não respondais a violência com violência. Não se trata de cruzar os braços, mas de responder à violência com a não-violência ativa: com a bondade, a mansidão e o amor. Em outra forma: "não revidar, não retaliar, não contra-atacar, não se vingar".

Estas atitudes verdadeiras possuem uma força intrínseca invencível como ensina Gandhi. Para o profeta russo tal preceito não se restringe ao cristianismo. Ele traduz a lógica secreta e profunda do espírito humano que é o amor. Toca no sagrado que está dentro de cada um. Por isso o título do livro O Reino de Deus está em vós. Gandhi traduziu a não-violência tolstoiana como não-cooperação, desobediência civil e repúdio ativo a toda servilidade. Tanto ele como Tolstói sabiam que o poder se alimenta da aceitação, da obediência cega e da submissão. Porque tanto o Estado quanto a Igreja exigem estas atitudes servis, desqualifica- as de forma contundente. São instituições que tolhem a liberdade, atributo inalienável e definitório do ser humano. No frontispício do livro lemos a frase de São Paulo:"não vos torneis servos dos homens"(1Cor 7,23).



O reino de deus está entre nós livro de Leon Tolstoi Sermão da montanha Pacifismo




Para Tolstói o cristianismo é menos uma doutrina a ser aceita do que uma prática a ser vivida. Ele está à frente e não atrás. Para trás parece que faliu. Mas à frente é uma força que não foi ainda totalmente experimentada. E é urgente praticá-la Profeticamente Tolstói percebia a irrupção de guerras violentas, como, de fato, ocorreram. A casa está pegando fogo e não há tempo para se perguntar se é preciso sair ou não.

Tolstói tem uma mensagem para o momento atual, pois os grandes continuam acreditando na violência bélica para resolver problemas políticos no Iraque e no Afeganistão. Mas outros tempos virão. Quando o pintinho já não pode mais ficar no ovo, ele mesmo rompe a casca com o bico e então nasce. Assim deverá nascer uma nova era de não-violência e de paz."









Frases de Leon Tolstoi


– Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil.

– Os homens distinguem-se entre si também neste caso: alguns primeiro pensam, depois falam e, em seguida, agem; outros, ao contrário, primeiro falam, depois agem e, por fim, pensam.

– Não é possível ser bom pela metade.

– O mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo.

- Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.

– A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova.

– O dinheiro representa uma nova forma de escravidão impessoal, em lugar da antiga escravidão pessoal.

– A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira.

- Cada um viveu tanto, quanto amou.

- O único fim dos tribunais é o de manter a sociedade no seu estado atual.

- Quando as pessoas falam de forma muito elaborada e sofisticada, ou querem contar uma mentira, ou querem admirar a si mesmas. Ninguém deve acreditar em tais pessoas. A fala boa é sempre clara, inteligente e compreendida por todos.

– Não há grandeza quando não há simplicidade.






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