sábado, 2 de julho de 2011

Educação: os acertos dos livros de português do MEC. O ensino da língua culta e da linguagem popular nas escolas.


Desenhos como estes ajudaram na campanha de
desinformação sobre os livros do MEC




Amigos do blog Psicologia Racional,


O caso que vou relatar aqui é sobre um livro que, segundo a imprensa, ensina os alunos a falarem e escreverem errado.  O assunto foi tratado em manchetes escandalosas e erradas. E o pior, cidadãos apressadinhos, reproduziram estas enganações em emails, aumentando o poder da difamação.

Abaixo uma matéria do portal UOL:

"O livro causou polêmica porque tem frases com erro de concordância em uma lição que apresenta a diferença da norma culta e a falada. No texto, a autora da obra defende que os alunos podem falar de "jeito errado", mas devem atentar para o uso da norma culta, cujas regras precisam ser dominadas.

"Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?'. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico", diz um trecho da obra.


OUTROS TEXTOS DO SITE PSICOLOGIA RACIONAL



Os defensores da obra dizem que não há certo e errado em linguística, mas sim adequado ou não adequado ao contexto -- numa entrevista de emprego, o correto seria usar a norma culta, mas isso não necessariamente aconteceria numa conversa informal. Já os críticos defendem que a escola ensine apenas a norma culta, essencial para o aluno ascender socialmente".

Vamos entender o caso:

Desde 1997 o MEC considera que não existe a forma correta de falar uma língua. Existem variações linguísticas, ou seja, as formas mais cultas ou mais populares. A língua muda sempre, portanto, as variações são próprias da dinâmica da língua. A escola deve ensinar a norma culta. Mas, deve respeitar as outras formas de falar.

Qual é a conduta do professor? RESPEITAR o jeito dos alunos falarem e TRANSMITIR a norma culta.


Por que no Brasil repeitar o outro é algo tão polêmico? Será que é tão difícil assim entender que podemos respeitar uns aos outros?

A escola transmite a norma culta, que muda com o passar dos anos. Lembra quando era culto escrever pharmácia?

Se você pegar um texto em português do século 19, com certeza terá muitas dificuldades de entender o texto. Sabe porque? Porque a língua falada e escrita mudou muito. Mudou porque surgiram variantes que não seguiram a norma culta da época e estas variantes acabaram se impondo. Ou seja, a forma culta de hoje é a variante popular de ontem.

Todos os dias você usa dezenas de vezes o termo VOCÊ. Sabe de onde veio este termo? O termo que o originou é VOSSA MERCÊ. Qual foi a última vez que você usou o termo vossa mercê? Provavelmente nunca.


"Você é uma palavra derivada do intitulamento vossa mercê, usado desde remotos tempos, e que com o correr dos séculos se foi transformando, até chegar no atual você, passando pelas formas intermédias abreviadas por sucessiva contração de vossemecê, vomecê e vancê. Inicialmente, mercê era o elevado tratamento dado na terceira pessoa aos reis de Portugal, durante a dinastia de Borgonha, e inícios da dinastia de Avis que se lhe seguiu". (Fonte: Wikipedia)

A língua muda, a norma culta de uma língua muda. Não se deve negativizar quem fala em desacordo com a norma culta. Porém, deve-se orientá-los e incentivar a norma culta. Desta forma, estas pessoas terão mais facilidade de adequação social e mais facilidade de transmissão do seu pensamento.

Este exemplo é bom porque mostra diferentes formas de falar a mesma frase:

Nós vamos comer agora.

Nóis vai cumê agora.

Nois vai cum agora.

Nois vai cum ago.

Você pode perceber que a norma culta ajuda a transmitir ideias que são mais facilmente entendidas por todos.

A segunda forma também transmite bem a ideia, porém qualquer corruptela do verbo já dificulta a comunicação.

A precisão vai sendo perdida a cada transformação da língua, dificultando a comunicação. Ensinar a norma culta é uma forma de impedir que haja tamanho distanciamento entre a norma culta e algumas variações, o que dificulta a comunicação.



Se uma criança fala "fessora" (professora) é bem entendido. Mas, se um paciente fala que está com dor no "figo" (fígado) não é bem entendido. Na escola deve-se ensinar professora e fígado. Desta forma, e com respeito, a comunicação entre as pessoas fica mais fácil.

Espero ter ajudado vossa senhoria entender este debate sobre a língua portuguesa.

Aqui você encontra o capítulo do livro a que me refiro. Eu li inteiro e digo: é bom, bem feito e inteligente.


Autor: Regis Mesquita
Contato e Terapia: regismesquita@hotmail.com



Leia também:



















DIREITOS AUTORAIS 

Licença para reprodução dos textos do site Psicologia Racional, siga as instruções 



2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, realmente muito interessante.

    ResponderExcluir
  2. O PLATÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS ENTREVISTA DOCENTE CORRETOR DE REDAÇÃO


    O senhor trabalha em universidade pública e participa corrigindo redações. O quê o senhor acha de ensinar errado?
    - Veja bem. Nós só temos algo próximo de 5 mil vagas e precisamos, para haver alguma lucratividade, de uns 50 mil candidatos. Se todos tivessem um conhecimento médio em linguagem seria impossível corrigir tantas provas, exigindo uma quantidade imensa de pessoas quando queremos até que os ganhos disto sejam apenas para uma meia dúzia. E mesmo que o sistema pague um extra fabuloso, enquanto de cada 100 redações mais de 90% zerando logo na primeira frase, fica tudo maravilhoso.

    Como o senhor também trabalha formando docente, você induz que esses ensinem tal qual indica a professora no seu livro?
    - Com certeza!!! Até, como já mostrei, para que fique mais fácil ganharmos um extra sem muito esforço. Além disto, o que temos na rede pública são aluno sem a mínima condições de aprender nada e a única coisa a se fazer é ensinar o que esses já sabem.

    Mas, como o senhor tem tanta certeza de que os seus alunos não serão também docente da rede privada?
    - Quem quer isso vai estudando por fora e não espera, até porque já sabe que não terá. Além do mais, na rede privada tem quem exija e fique vigiando tudo que ele faz na sala de aula. Já na pública, é só fechar a porta e fazer o quiser e como quiser, sem que deva qualquer satisfação a seu ninguém. Bastando, obviamente, que tenha certas amizades e não se meta, fora elogiar, no que os demais estão fazendo.


    O senhor não acha tudo isso uma perversidade contra o povo?
    - Absolutamente não!! Isso sempre se fez e em todas as disciplinas e ninguém nunca disse nada. De fato, os que foram nomeados no tempo da ditadura, a qual expulsou e perseguiu docente indesejável, gente que até fugiu deixando os alunos sem aula, salvo raras, exceções o general escolheu para nomear sem concurso exatamente quem fosse capaz de promover tais coisas, já que queria evitar que, se rede pública fosse mediamente letrada, a guerra para ingressar na universidade publica, os excedentes, seria terrível. Posto que, pobre é bicho metido e o fato de não haver alojamento, comida, livro e haver campus de universidade pública que só para se deslocar entre blocos de aulas precisa ter carro, por isso a ditadura fez onde foi possível cidades universitárias, mesmo assim, nem todo deixa de persistir fazer curso em universidade pública.

    E perguntamos, na condição de anonimato, para projetor do Enem o porquê de ter sido tão fácil corrigir milhões de redação em menos de dois meses.
    - Simples, meu caro!!! Mais de 90% desses zeram na primeira frase com coisas como neça frasi... E lembro que se não fosse assim o custo para que as empresas tenham lucro por participar do Enem seria astronômico.

    ResponderExcluir