Amigos do site Psicologia Racional,
Abaixo apresento um texto
que mostra uma realidade: as vezes tomar remédios é o pior caminho para superar
uma depressão.
É preciso analisar caso a
caso. Algumas pessoas são muito beneficiadas pelos medicamentos. Uma grande
parte não são beneficiadas; é preciso avaliar para não perder tempo precioso de
vida.
“Enquanto (Irving) Kirsch
conclui que os antidepressivos NÃO são provavelmente mais eficazes do que placebos, Whitaker conclui que eles e a maioria das drogas psicoativas não são
apenas ineficazes, mas prejudiciais. Whitaker começa por observar que, se o tratamento
de doenças mentais por meio de medicamentos disparou, o mesmo aconteceu com as
patologias tratadas:
O número de doentes
mentais incapacitados aumentou imensamente desde 1955 e durante as duas últimas
décadas, período em que a prescrição de medicamentos psiquiátricos explodiu e o
número de adultos e crianças incapacitados por doença mental aumentou numa taxa
alucinante. Assim, chegamos a uma pergunta óbvia, embora herética: o paradigma
de tratamento baseado em drogas poderia estar alimentando, de alguma maneira
imprevista, essa praga dos tempos modernos?
Além disso, Whitaker
sustenta que a história natural da doença mental mudou.
Enquanto transtornos como
esquizofrenia e depressão eram outrora episódicos, e cada episódio durava não
mais de seis meses, sendo intercalado por longos períodos de normalidade, os
distúrbios agora são crônicos e duram a vida inteira.
Whitaker acredita que isso
talvez aconteça porque os medicamentos, mesmo aqueles que aliviam os sintomas
em curto prazo, causam em longo prazo danos mentais que continuam depois que a
doença teria naturalmente se resolvido.
Se as drogas psicoativas
causam danos, como afirma Whitaker, qual é o seu mecanismo? A resposta, ele
acredita, encontra-se em seus efeitos sobre os neurotransmissores. É bem sabido
que as drogas psicoativas perturbam os neurotransmissores, mesmo que essa não
seja a causa primeira da doença.
Whitaker descreve uma
cadeia de efeitos. Quando, por exemplo, um antidepressivo como o Celexa aumenta
os níveis de serotonina nas sinapses, ele estimula mudanças compensatórias por
meio de um processo chamado feedback negativo. Em reação aos altos níveis de
serotonina, os neurônios que a secretam liberam menos dela, e os neurônios
pós-sinápticos tornam-se insensíveis a ela. Na verdade, o cérebro está tentando
anular os efeitos da droga. O mesmo vale para os medicamentos que bloqueiam
neurotransmissores, exceto no sentido inverso.
A maioria dos
antipsicóticos, por exemplo, bloqueia a dopamina, mas os neurônios
pré-sinápticos compensam isso liberando mais dopamina, e os neurônios
pós-sinápticos a aceitam com mais avidez.
As consequências do uso
prolongado de drogas psicoativas, nas palavras de Steve Hyman, até recentemente
reitor da Universidade de Harvard, são “alterações substanciais e de longa
duração na função neural”.
Depois de várias semanas
de drogas psicoativas, os esforços de compensação do cérebro começam a falhar e
surgem efeitos colaterais que refletem o mecanismo de ação dos medicamentos.
VÍDEO do Canal Caminho Nobre: Lavagem cerebral! Como a sua mente está sendo dominada
Antipsicóticos causam
efeitos secundários que se assemelham ao mal de Parkinson, por causa do
esgotamento de dopamina (que também se esgota no Parkinson). À medida que
surgem efeitos colaterais, eles são tratados por outros medicamentos, e muitos
pacientes acabam tomando um coquetel de drogas psicoativas, prescrito para um
coquetel de diagnósticos. Os episódios de mania causada por antidepressivos
podem levar a um novo diagnóstico de “transtorno bipolar” e ao tratamento com
um “estabilizador de humor”, como Depokote (anticonvulsivo), acompanhado de uma
das novas drogas antipsicóticas. E assim por diante.
A respeitada pesquisadora
Nancy Andreasen e seus colegas publicaram indícios de que o uso de
antipsicóticos está associado ao encolhimento do cérebro, e que o efeito está
diretamente relacionado à dose e à duração do tratamento. Como Andreasen
explicou ao New York Times: “O córtex pré-frontal não obtém o que precisa e vai
sendo fechado pelos medicamentos. Isso reduz os sintomas psicóticos. E faz
também com que o córtex pré-frontal se atrofie lentamente."
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Largar os remédios é
extremamente difícil, segundo Whitaker, porque quando eles são retirados, os
mecanismos compensatórios ficam sem oposição.
Quando se retira o Celexa,
os níveis de serotonina caem bruscamente porque os neurônios pré-sinápticos não
estão liberando quantidades normais. Da mesma forma, quando se suspende um
antipsicótico, os níveis de dopamina podem disparar. Os sintomas produzidos
pela retirada de drogas psicoativas são confundidos com recaídas da doença
original, o que pode levar psiquiatras a retomar o tratamento com remédios,
talvez em doses mais elevadas.
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Imagine que aparece de
repente um vírus que faz com que as pessoas durmam doze, catorze horas por dia.
As pessoas infectadas se movimentam devagar e parecem emocionalmente
desligadas. Muitas ganham quantidades imensas de peso – 10, 20 e até 50 quilos.
Os seus níveis de açúcar no sangue disparam, assim como os de colesterol.
LEIA TAMBÉM: Vantagens que a Mente Neutra traz para a sua vida
Vários dos atingidos pela
doença misteriosa – entre eles, crianças e adolescentes – se tornam diabéticos.
O governo federal dá centenas de milhões de dólares aos cientistas para decifrar
o funcionamento do vírus, e eles relatam que ele bloqueia uma multidão de
receptores no cérebro. Enquanto isso, exames de ressonância magnética descobrem
que, ao longo de vários anos, o vírus encolhe o córtex cerebral, e esta
diminuição está ligada ao declínio cognitivo. O público aterrorizado clama por
uma cura.
Ora, essa doença está, de
fato, atingindo milhões de crianças e adultos. Acabamos de descrever os efeitos
do antipsicótico Zyprexa, um dos mais vendidos do laboratório Eli Lilly”.
Fonte: Trecho de uma
reportagem da Revista Piauí, número 59
Autora:
Marcia Angell
Obs: não use este texto
como pretexto para abandonar o tratamento com medicamentos. Vale saber que
existem dúvidas quanto à eficácia de alguns medicamentos.
Existem outros tratamentos
para a depressão que podem ser feitos em conjunto ou separados. A terapia é um
destes tratamentos. O mais importante é você saber que existem outras opções
boas.
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