Amigos do site Psicologia Racional,
A forma como o cérebro humano
funciona não depende só do conteúdo que ele apreende. Depende, principalmente,
das características da estimulação que ele recebe. Sendo assim, o cérebro de
uma criança que atualmente tem 7 anos é razoavelmente diferente do cérebro de
uma criança de 7 anos em 1920. Por estar submetida a estímulos diferentes,
estimula-se áreas diferentes do cérebro, o que gera modificações significativas.
O resultado destas modificações é que algumas patologias estão aumentando significativamente. É de se pensar: o que podemos fazer para preveni-las?
(Obs: para entender os dois modos
básicos da mente humana funcionar – Mente Neutra e mente reativa – visite o site Caminho Nobre)
Abaixo coloco um trecho do livro “O
cérebro que se transforma” (pag 328 e
329). Este trecho descreve o reflexo de orientação, surgido nos primórdios da
humanidade e a influência sobre ele das novas tecnologias áudio-visuais. Depois
comento.
“A televisão, os clips de música e
videogames, todos que usam técnicas de televisão, desenrolam-se em um ritmo
muito mais rápido do que a vida real e estão ficando mais rápidos, o que leva as pessoas a desenvolveram um
apetite cada vez maior por transições de alta velocidade nessas mídias."
MAIS TEXTOS DA PSICOLOGIA RACIONAL
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“É a forma do meio de televisão -
cortes, edições, zooms, panorâmicas e ruídos súbitos - que altera o cérebro,
ativando o que Pavlov chamou de “reflexo
de orientação”, que acontece sempre que sentimos uma mudança repentina no
mundo, especialmente um movimento súbito. Por instinto, interrompemos o que
estivermos fazendo para nos virar, prestar atenção e nos orientarmos. O reflexo
de orientação evoluiu, sem dúvida nenhuma, porque nossos antepassados eram ao
mesmo tempo predadores e presa e precisavam reagir a situações que podiam ser
perigosas ou podiam se mostrar oportunidades repentinas de comida ou sexo, ou
simplesmente situações novas. A resposta é fisiológica: o batimento cardíaco
diminui por 4 a 6 segundos.”
“A televisão estimula essa resposta
a uma taxa muito mais rápida do que experimentamos na vida, e é por isso que
não conseguimos desgrudar os olhos da tela da TV, mesmo no meio de uma conversa
íntima, e é por isso também que as pessoas veem TV por muito mais tempo do que
pretendem. Como os clips de música,
sequências de ação e comerciais estimulam reflexos de orientação a uma taxa de
um por segundo, assisti-los nos coloca irrecuperavelmente em reflexo de
orientação contínuo. Não admira que as pessoas falem de se sentir esgotadas
de tanto ver TV. Entretanto, adquirimos um gosto por ela e achamos tediosas as mudanças mais lentas.”
O preço
a pagar é a dificuldade crescente em atividades como ler, manter uma conversa
complexa ou assistir às aulas."
Comentário de Regis Mesquita:
Cada vez que seu instinto de
proteção e sobrevivência é ativado – por exemplo, através do reflexo de
orientação – aumenta o stress e diminui
o nível de segurança básica.
O cérebro fica hiperestimulado
(estressado) e excitado. As drogas “da moda” desde o meio dos anos 70 até hoje
(coincidindo com a tremenda popularização dos meios de comunicação Tv, internet
e vídeo games) foram estimulantes da mente: cocaína, crack, bebidas
“energéticas”, entre outros. Durante a contra-cultura (final dos anos 60 e começo
dos anos 70), movimento que pregava a “saída do sistema”, as drogas mais usadas
eram LSD e maconha – eles buscavam tornar a vida mais “lenta, curtida, calma,
paz e amor”.
Quando uma mocinha compra o "energético" Red
Bull para beber, ela está mantendo sua mente “estimulada”. Ela está condicionada a viver neste estado mental. A todo momento
precisa de novos estímulos, novas compras, novas tecnologias, novos lugares
para ir, novidades, novidades, novidades. É um modo de vida mais impulsivo,
mais estressante, mais narcísico – que transforma parte das pessoas em sérias
candidatas a desenvolverem depressão e/ou terem problemas com a atenção.
Vou usar um exemplo mais radical:
depois que as pessoas usam cocaína e “superestimulam” o cérebro, vem o
esgotamento e o “vazio existencial”. A pessoa precisa de mais droga para voltar
a se sentir bem. O mesmo acontece com uma parcela das pessoas que não usam drogas,
mas que se submetem à hiperestimulação (hiperexcitação) da mente. Elas precisam de estímulos consecutivos para combater
o esgotamento (estão sempre cansadas e “sem tempo”) e o vazio existencial.
Traduzindo: o cérebro que recebe muita estimulação precisa descansar mais; se
houver troca rápida de estímulo a necessidade de descanso é maior.
Ao ativar rapidamente e
constantemente áreas que originalmente eram de defesa (instintos de
sobrevivência) a vida moderna está estimulando o fortalecimento de áreas do
cérebro que estão ligadas a estes instintos. Ou seja, quando vão processar quaisquer estímulos ambientais, os
instintos de sobrevivência também são ativados. Exemplificando: a pessoa vai à praia. O relaxamento deveria ser acompanhado pelo “desligar do mundo e de tudo”. Deveria, mas o instinto de sobrevivência
necessita saber de tudo, necessita manter-se ativo, para poder se defender. Ou seja, o hábito de se manter
conectado é reforçado pela necessidade
vital de manter-se alerta (1).
LEIA E ASSISTA OS VÍDEOS: Introdução ao uso da respiração para aquietar a mente, relaxar o corpo e diminuir o stress.
O desligar de tudo, necessário para
promover a calma mental, depende de ativar outras áreas da mente que geram a segurança básica. A segurança básica
existe quando o instinto de sobrevivência “fica quietinho” e os sentimentos
nobres podem ter preponderância. Um bom exemplo é seu cachorro de estimação. Se
ele está descansando deitado no chão e você passa perto dele, ele se mantém
tranquilo e em paz; e continua deitado “numa boa”. Se uma pessoa desconhecida
passar perto dele, ele fica alerta e provavelmente sairá do caminho (área de
risco, já que não conhece e não se sente seguro com o desconhecido).
LEIA TAMBÉM: A quietude da mente gera paz e serenidade
Observe que a resposta do cachorro
depende da interpretação que ele faz da pessoa que passa perto dele (o estímulo
mental). Quando seu cuidador (o dono) passa perto, ele não tem nenhuma reação
baseada no instinto de sobrevivência. Ele só desperta seu instinto de
sobrevivência quando é alguém desconhecido que chega perto dele.
Se ele for um cachorro traumatizado
ou neurótico, ficará alerta o tempo inteiro. Cada estímulo que chegar até ele
servirá para despertar seu instinto de sobrevivência – ficará sempre alerta. O humano moderno se comporta com um neurótico que fica sempre alerta, com o instinto de sobrevivência excitado. Fica sempre ligado, conectado; sempre estimulado, sempre estressado e, por isto, sempre
cansado e necessitando sempre de mais estímulos.
A recompensa baseada no instinto de sobrevivência é o alívio.
Alívio dá prazer, porque gera contraste na mente das pessoas. Voltemos ao
exemplo do cachorro: passa perto um desconhecido, ele estressa, sai do lugar, fica distante do
“perigo”, em seguida vem o alívio do stress (já que o desconhecido não o atacou), o que gera prazer. O cachorro
deita em outro lugar e a volta da paz é o alívio do stress (Ufa! Não fui atacado.).
O ser humano é mais complexo, e
pior. Ele se prende à recompensa (prazer) do alívio e reforça seu comportamento
de stress e insegurança. É o que acontece com a moda, por exemplo. A moda vive
de um fenômeno mental complexo de insatisfação, tédio e medo/stress. Para
aderir à moda atual a pessoa deve ter descartado todo seu vínculo com a moda
anterior. O que era bonito não é mais e a
novidade é a recompensa por desejar igual às outras pessoas. A moda vive do
treinamento mental de ficar insatisfeito e depois ficar feliz quando se tem o
alívio desta insatisfação. O oposto desta situação: quando a pessoa está satisfeita ela cria
vínculo, carinho, permanência – ela adora determinada roupa e “não troca por
nada” (ou seja, mantém a roupa e se distancia da moda).
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Esta pessoa que ama seu animal de
estimação construiu um espaço de amor em sua vida. Mas, por outro lado, pode ter treinado sua
mente para ativar seu instinto de sobrevivência sempre que receber outros
estímulos que vem de outros humanos. Nestes outros momentos, ela entra no
padrão tensão, stress, insatisfação e alívio. O prazer fica dependente do
alívio . O stress vai às alturas, alguns desenvolverão síndrome do pânico,
depressão, ansiedade patológica, drogadição, entre outros.
LEIA TAMBÉM: Uma vida simples para ter tempo para amar
Outros responderão à
hiperestimulação dos instintos de sobrevivência tornando-se preguiçosos. Outros
buscarão a proteção na alienação ou na falta de compromisso. O que é importante
entender é uma regra mental: tudo que é
hiperestimulado cria seu oposto. Por exemplo: jovens que assistem muita pornografia ficarão mais susceptíveis a terem dificuldade de ereção/excitação.
Pessoas que estão constantemente estimulando a atenção (através do reflexo de
orientação, por exemplo) ficarão mais susceptíveis a terem algum distúrbio de atenção.
Algumas ideias de prevenção: nada
de TV para crianças até 3 anos de idade. Muito pouca tv e jogos para crianças
até 7 anos de idade. Ajudar crianças e adultos a criarem vínculos e
desenvolverem suas vocações. Praticar a autoprivação voluntária, para que o
excesso não crie o oposto do que se quer.
Sugiro que estude os textos deste
site Psicologia Racional e os textos
do site Caminho Nobre, assim você
entenderá melhor as propostas e as teorias que envolvem estas propostas.
1 - O "sempre alerta", sempre estressado, afeta profundamente a qualidade do sono. Este é um dos motivos pelos quais os problemas relacionados à má qualidade do sono estão aumentando tanto nos dias atuais.
Autor do texto: Regis Mesquita
Contato e Terapia: regismesquita@hotmail.com
Contato e Terapia: regismesquita@hotmail.com
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Leia também:
Pense nisto!
Uma pessoa treinada para ter uma
mente reativa pode ter milhares de experiências positivas. Mas, as experiências
(reais ou imaginárias) centrais em suas mentes serão as negativas.
Quando o instinto de sobrevivência
é ativado ele “rastreia” o mundo a procura de risco; ou seja, as negatividades
que podem trazer-lhe prejuízo. Em pouco tempo, a mente fica condicionada a
manter na consciência o negativo e desprezar o que é nobre.
Regis Mesquita, seu blog consegue trazer informações sérias de um modo simples. É por isto que gosto de voltar aqui.
ResponderExcluirAprendi muito com o texto de hoje. Muito obrigado!
Também gosto muito do seu outro blog Caminho Nobre. É muito esclarecedor.
Luciano Almeida
Caramba é incrível o conteúdo do seu site,Sem palavras.Muito obrigado pelas postagens!Está me ajudando muito!Nadir da Rosa
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