quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A pornografia pode te fazer aprender ou sofrer. Histórias de vícios e de descobertas libertadoras.



prazer sexual sadio permite que este prazer dure a vida inteira






O texto abaixo é um relato muito interessante sobre a história da pornografia e seus possíveis efeitos dentro da mente das pessoas.  Convido-os a lerem, no final estão alguns comentários meus.


À primeira vista, a pornografia parece ser uma questão puramente instintiva: imagens sexualmente explícitas incitam reações instintivas, que são o fruto de milhões de anos de evolução. Mas se isso fosse verdade, a pornografia não teria se alterado. Ficaríamos excitados com os mesmos estímulos, as mesmas partes do corpo e suas proporções que excitavam nossos ancestrais. Isso é o que os produtores de material pornográfico querem nos fazer acreditar, pois alegam que estão combatendo a repressão sexual, o tabu e o medo e que seu objetivo é liberar os instintos sexuais naturais e reprimidos.

Mas, na realidade, o conteúdo da pornografia é um fenômeno dinâmico que ilustra perfeitamente o progresso de um gosto adquirido. Trinta anos atrás, pornografia “hardcore” em geral significava a representação explícita de atos sexuais entre dois parceiros excitados, exibindo seus genitais. A “softcore” significava imagens principalmente de mulheres numa cama, no banheiro ou em algum ambiente semirromântico, em vários estados de nudez, com os seios à mostra.


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Agora a pornografia hardcore evoluiu e é cada vez mais dominada por temas sadomasoquistas de sexo forçado, ejaculações na cara das mulheres e sexo anal furioso, todos envolvendo roteiros que misturam sexo com ódio e humilhação. A pornografia hardcore atualmente explora o mundo da perversão, enquanto a pornografia softcore é o que era a hardcore há algumas décadas, atos sexuais explícitos entre adultos, agora disponível pela TV a cabo. As imagens comparativamente dóceis e leves do passado – mulheres  em vários estágios de nudez - agora aparecem na mídia dominante o dia todo, na “pornificação” de tudo, incluindo a televisão, os videoclipes de rock, as novelas, a propaganda e assim por diante.

... O poder da pornografia softcore hoje é mais profundo porque, agora que não é maís escondida, ela influencia jovens com pouca experiência sexual e especialmente mentes plásticas, em vias de formar suas preferências e seus desejos sexuais. Todavia, a influência plástica da pornografia sobre adultos também pode ser profunda, e aqueles que a usam não sabem até que ponto terão o cérebro remodelado por ela.


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De meados ao final da década de 1990, quando a internet estava crescendo rapidamente e a pornografia explodia, tratei ou auxiliei no tratamento de vários homens que tinham essencialmente a mesma história. Cada um deles tinha adquirido um gosto por um tipo de pornografia que, em vários graus, criava problemas ou os enojava, produzindo um efeito perturbador sobre o seu padrão de excitação sexual, afetando seus relacionamentos e sua potência sexual.

Nenhum desses homens era fundamentalmente imaturo, socialmente problemático ou afastado do mundo por uma imensa coleção de material pornográfico para substituir os relacionamentos com mulheres reais. Eram homens agradáveis, em geral atenciosos, com relacionamentos ou casamentos razoavelmente bem-sucedidos.


Geralmente, durante o tratamento por algum outro problema, um desses homens contava, quase como um aparte e com um desconforto evidente, que se via passando cada vez mais tempo na internet, vendo pornografia e se masturbando. Ele tentava atenuar seu desconforto afirmando que todo mundo fazia isso. Em alguns casos ele começava a ver um site do tipo Playboy, uma imagem de nu ou videoclipe que alguém mandasse a ele só de farra. Em outros, ele visitava um site inofensivo, com um anúncio sugestivo que o redirecionava para sites indecentes, e logo ele era fisgado.




Vários desses homens também contaram outra coisa, em geral de passagem, que chamou minha atenção. Relataram uma dificuldade cada vez maior de ficar excitados com suas parceiras sexuais atuais, esposas ou namoradas, embora objetivamente ainda as considerassem atraentes. Quando perguntei se esse fenômeno tinha alguma relação com ver pornografia, eles responderam que inicialmente a pornografia os ajudava a ficar mais excitados durante o sexo, mas que com o tempo teve o efeito contrário. Agora, em vez de usar seus sentidos para curtir estar na cama, no presente, com suas parceiras, fazer amor exigia cada vez maisque eles fantasiassem fazer parte de um roteiro pornô. Alguns, gentilmente, tentavam convencer as amantes a agir como estrelas pornôs e ficavam cada vez mais interessados em “foder” em vez de “fazer amor”. Sua vida de fantasia sexual era cada vez mais dominada pelos cenários que eles tinham, por assim dizer, baixado em seus cérebros, e esses novos roteiros costumavam ser mais primitivos e mais violentos do que as fantasias sexuais anteriores. Tive a impressão de que qualquer criatividade sexual que esses homens tivessem estava morrendo e que eles estavam se viciando em pornografia pela internet.



As mudanças que observei não se restringem a algumas pessoas em terapia. Está havendo uma mudança social. ...

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O problema é sua tolerância, ou “resistência”. Ele reconhece que é como um viciado em drogas que não fica mais ligado em imagens que antes o excitavam. E o perigo é que essa tolerância será levada para os relacionamentos, como aconteceu com pacientes que eu atendia, conduzindo a possíveis problemas e preferência novas e às vezes indesejadas. Quando os pornógrafos se gabam de que estão rompendo barreiras ao introduzirem temas novos e mais pesados, o que eles não dizem é que precisam fazer isso, porque seus clientes estão desenvolvendo uma tolerância ao conteúdo. As últimas páginas de revistas masculinas obscenas e os sites pornôs na internet estão cheios de anúncios de drogas do tipo Viagra - um remédio desenvolvido para homens mais velhos com problemas de ereção relacionados ao envelhecimento e a distúrbios vasculares no pênis. Hoje os jovens que navegam pela internet buscando pornografia têm um medo imenso da impotência - ou da “disfunção erétil”, como é eufemisticamente chamada. A expressão enganosa implica que esses homens têm um problema em seu pênis, mas o problema está em sua cabeça, em seu mapa sexual no cérebro. O pênis funciona bem quando eles usam pornografia. Raras vezes ocorre a eles que pode haver uma relação entre a pornografia que consomem e sua impotência. (Alguns homens, porém, descreveram nitidamente suas horas ao computador em sites pornôs como “masturbação cerebral”.)

Do livro O Cérebro que se Transforma ( pag 116 a 119)
Editora Record








Menos ansiedade! Acabe com o vício nos desejos e nas fantasias




COMENTÁRIOS DE REGIS MESQUITA:

Maria era uma exímia cozinheira. Lia livros sobre culinária, assistia programas de televisão sobre o tema, trocava receitas e dicas com as amigas. O conhecimento e a experiência adquirida na culinária traziam para ela ótimas experiências, reforço positivo para a autoestima e muito bem estar.

Maria, porém, tinha um lado profundamente insatisfeito. Não tinha prazer sexual. Não tinha com quem conversar sobre o assunto, não sabia com quem trocar experiências e nem como desenvolver a habilidade do sexo.

O sexo é uma habilidade que deve ser aprendida e aperfeiçoada.

Depois de muito sofrer, Maria decidiu usar o único recurso que estava disponível: pornografia. Em segredo, procurou a pornografia para aprender. Observando e experimentando em si e com o marido, ela superou bloqueios e desenvolveu a capacidade de sentir prazer.

Ela é grata à pornografia. Atualmente usa-a eventualmente como estímulo e distração.

Maria faz uso sadio de um recurso que lhe ajuda a perpetuar seu estímulo sexual ao longo dos anos.


Absolutamente tudo na vida humana pode ser sadio ou pode se transformar em fonte de sofrimento e desequilíbrio. Com a pornografia não é diferente.

O excesso de pornografia provoca uma hiperestimulação visual, o que se torna prejudicial no momento do ato sexual. Neste momento, o visual perde em intensidade, favorecendo o tátil e o olfato. Outro potencializador do tesão é a sensibilidade corporal e afetiva. Tudo indica o seguinte: cabeça vazia (sem pensamentos ou imagens) transa com mais prazer.

Pornografia é transar com a cabeça cheia de ideias e fantasias. Pode gerar um estímulo inicial, mas depois atrapalha a dinâmica da sexualidade.

Explico usando uma metáfora animal:

O pássaro canta e abre as asas em cima da árvore. É o ritual de sedução para o acasalamento. No ser humano acontece algo parecido. Demonstrar o interesse e a atenção gera reações sexuais “instintivas” que é chamado de mobilização sexual (é aí que a pornografia entra - mobilizando). 

Após esta mobilização inicial, o próximo passo é o envolvimento, a aceitação e a entrega (neste momento a pornografia é dispensável). O momento pós estimulação inicial é o momento de "esvaziar a cabeça", para se preparar para a entrega total o que potencializa o orgasmo e o relaxamento pós orgasmo.
A vida da Joana e do Paulo:

Joana era uma moça nascida miserável e bela. Suas amigas já haviam tido experiências sexuais, ela não. As amigas transaram com meninos da favela, que aproveitavam o escurinho e a privacidade do mato para transarem.

Joana conheceu um rapaz no ponto de ônibus. O rapaz tinha carro e a levou a lugares que ela nunca havia ido. O rapaz aceitava-a como favelada e “não se envergonhava de estar publicamente ao lado dela”. Ela apaixonou-se por ele, transou com ele em um motel; logo descobriu que ela estava apaixonada, ele não.

O rapaz demonstrou interesse e atenção, foi legal com ela e, por isto, se tornou “especial”. O corpo dela respondeu instintivamente sentindo prazer e bem estar. Ela decodificou estas sensações como amor. Amor sexualizado. (atenção: por falta de espaço neste texto simplifico a história da Joana  – basta você entender que todos nós precisamos de níveis de estimulação sexual ao longo do dia – necessidade muito bem explorada por propaganda e meios de comunicação). Tal qual a passarinha sente-se estimulada pelo passarinho cantador, o ser humano também responde estimulando-se sexualmente ao sentir o interesse do outro ou observando seu objeto do desejo se expor abertamente (no humano: roupa, trejeitos, olhares, etc.).

Paulo era um grande conquistador. Quando perguntado qual o seu segredo ele respondia: “eu presto atenção na mulher. Quero que ela se sinta especial com minha atenção.” Ele tinha muito sucesso: as mulheres se sentiam interessadas em transar com ele.

Enquanto Paulo tinha o comportamento sedutor, seu corpo era estimulado para a atividade sexual. Todos, homens e mulheres, precisam de estímulos sexuais para manter sua sexualidade ativa e estimulada. É aí que entra a sedução da pornografia, das dançarinas de programa de auditório, dos cantores bonitões, dos artistas que despertam “sonhos”, etc. Oferecem a dose de estímulo sexual “diária”.

O corpo se prepara durante todo o dia para o ato sexual (com maior ou menor intensidade dependendo da vida da pessoa, da genética, etc). No trabalho, no transporte, na hora do almoço, todo momento pode ser usado para a pornografia, porque todos estes momentos podem ser usados para estimular a sexualidade.

Lembre-se: o ser humano precisa de estímulos sexuais durante o dia inteiro para mobilizar seu corpo e prepará-lo para esta atividade. Esta necessidade varia de pessoa para pessoa, mas está presente sempre, porque é parte do ato de sobreviver e de viver. Este é um campo propício para a pornografia, moda, arte, etc.

VÍDEO do Canal Caminho Nobre: A autoprivação não permitirá que o estresse da vida domine a sua mente.

Concluindo: pouca pornografia pode ser útil para estimular e aprender. Muita pornografia gera tensão interna e diminui a qualidade do sexo. A pornografia ajuda na erotização da vida; a vida precisa de vários diferentes estímulos para manter o corpo estimulado. Cada um deste estímulos devem ser "pequenos" para que o excesso não cause efeito contrário.


LEIA TAMBÉM: 

O que acontece quando alguém é hiperestimulado?

1- desinteresse
2 - precisa de mais estímulos para se ter o mesmo resultado (quando é progressivo leva ao vício)
3 - nada (continua tudo igual)
4 – saturação do estímulo e busca de complementariedade




Neste comentário vou focar a opção quatro.

Todo estímulo da vida tem que ser complementado para manter-se sadio e ampliar as possibilidades da consciência (explico abaixo).

A atitude: Maria (da primeira história) decidiu com o marido que não assistiriam mais televisão à noite. Estariam juntos realizando várias atividades, inclusive se observarem e se tocarem.


A consequência: os momentos de sexo começaram a acontecer mais cedo, com o corpo menos cansado e a mente focada no ato (menos estimulada pela tv). Estavam prontos para viver a sensibilidade. Neste contexto é mais fácil sentir o tato, o paladar, o olfato; é mais fácil brotar sentimentos nobres de carinho, alegria, descontração, autoaceitação. Com a mente calma, serena e lúcida é mais tranquilo se entregar ao exercício demorado dos contatos iniciais e da “cabeça que se esvazia”.

A complementariedade: um conjunto de posturas internas e escolhas de vida (aprendizados) que servem para reforçar o ato sexual e torná-lo propício para a ampliação do prazer durante o ato e APÓS o ato. Foi o que Maria e o marido fizeram: usaram o ato sexual para reforçar o contato e o estar junto, prestar mais atenção um no outro e se valorizarem mutuamente.

Ou seja, o estímulo sexual é reforçado por várias outras fontes de prazer. Há vários reforços, o que torna o ato sexual mais intenso e o prazer mais duradouro. Entenda: carinho dá tesão, atenção e aceitação dão tesão. Tudo fortalece o desejo e torna mais amplo o ato sexual.




Maria notou que brigava menos com o marido. Dizia que era fruto da vida sexual de melhor qualidade. Na realidade, a vida sexual serviu para reforçarem a intimidade e a aceitação. Reforçaram os carinhos e a proximidade. Menos brigas eram consequências do ato sexual ser complementado por várias posturas positivas que se mantinham após o ato sexual.

Quando a pessoa que está muito focada na pornografia ou em fantasias acaba gerando uma tensão psíquica que inibe a complementariedade. Muitas vezes busca esta complementariedade em sentimentos negativos ou degradantes (da mesma forma que o carinho estimula o tesão, a agressividade também pode estimular, por exemplo). Podem buscar também em brinquedinhos eróticos (que podem ter uso sadio ou não).

O que acontece é que sem a complementariedade a sexualidade torna-se menos intensa, menos duradoura, menos restauradora, menos relaxante, menos criativa.

Com tantos menos, é normal que muitas pessoas (que usam pornografia ou não) tenham medo de exercitá-la.


Sexualidade exige aprendizado como qualquer outra habilidade. Quando a sociedade gera grandes tabus, ela dificulta com que ensinamentos positivos circulem abertamente.

Pessoas que estão precisando de mais e mais estímulos para ter prazer com pornografia devem ter cuidado.

O caminho para gerar mais satisfação é a complementariedade sadia. Para tanto é necessário desenvolver a sensibilidade.


Autor dos comentários: Regis Mesquita


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4 comentários:

  1. Olá Regis,
    Parabens pelos textos que escreve, sou uma admiradora do seu trabalho.
    No ultimo texto que li sobre pornografia, havia uma menção ao amor sexualizado. O que seria isto exatamente?
    Obrigada
    Nanda
    P.S.: Já pensou em publicar seus textos em outras linguas tbm?

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  2. Fernanda, obrigado pelos elogios.
    Amor é amor; ele não precisa ter objeto. Amor é emanação. Jesus, por exemplo, amava o próximo porque produzia dentro de si o amor e ele tem que emanar, vibrar, movimentar.
    Portanto, este amor tem que fluir. No caso que descrevi no texto existia um processo de sexualização correndo paralelo ao estabelecimento do vínculo afetivo.
    Quando a pessoa começou a vibrar o amor, o que gera bem estar, este processo foi unido com a sexualidade.
    Uma das formas de potencializar o prazer e a satisfação sexual (principalmente no pós orgasmo) é unir os sentimentos nobres com a sexualidade.
    Espero ter ajudado.
    Beijos e esteja sempre por aqui. É legal saber que tem pessoas que apreciam os textos.

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  3. Complementando:
    Um indicador da qualidade do sexo é o pós orgasmo (ou pós coito). O estado de espírito pós orgasmo pode durar até 24 horas. Para a maioria das pessoas dura alguns poucos minutos.
    A união dos sentimentos nobres com o prazer sexual (mais o esvaziamento da mente) é que possibilita esta extensão do estado de espírito pós orgasmo.
    É uma experiência linda e profundamente renovadora.

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  4. Maravilhoso seu blog!

    http://www.valdeirvieira.com/unique-residencial/

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