Quando o governo militar
criou várias leis beneficiando os donos de faculdades e universidades, a
população se calou. Estes multimilionários usavam este dinheiro, que era para
ser público, da forma como queriam. Compravam aviões, faziam festas,
distribuíam presentes, etc. Tudo absolutamente normal para a população. A
classe pobre e a classe média já estão acostumadas a que estes multimilionários
tenham grandes privilégios.
Do senhor feudal ao grande
latifundiário, todos sempre tiveram privilégios. Quanto mais riqueza mais
privilégios. Na minha infância, um colega de aula bem rico se gabava de que o
pai dele não pagava multa de trânsito. Segundo ele, o delegado rasgava as multas quando
elas chegavam. O pai e o delegado eram amigos, e você sabe que as leis são para
quem não é amigo ou não tem poder. A classe média, que pagava multa, tinha como
meta ser mais rico, ter mais poder e mais privilégios. A ideia NUNCA foi criar
uma sociedade de respeito às leis e de igualdade de direitos e deveres.
O sonho do escravo não era
o fim da escravidão, era ser ele próprio senhor de escravo. Foi o que fizeram
vários ex-escravos libertos; compraram escravos. O funk ostentação é um reflexo
desta mesma prática: copiar os mais poderosos, em seus privilégios.
Em alguns momentos da
história, o pêndulo muda e a percepção do bem comum prevalece. É o que está
acontecendo hoje em dia com o automóvel. Os primeiros carros foram comprados
por gente muito rica. Lógico que, por este motivo, os carros ganharam grandes
direitos. Os pedestres tem que parar para os carros passarem. Hoje, lentamente,
os carros vão perdendo o status de prioridade. Justamente no momento em que os
automóveis se popularizaram e os multimilionários agregaram outros
“brinquedinhos”: helicópteros e aviões. Lógico que os novos brinquedinhos dos
multimilionários têm amplos benefícios tributários. Em outras palavras, todo
mundo que tem helicóptero pode pagar menos impostos (lógico que só os multimilionários usufruem deste direito).
Pagar menos impostos
significa dinheiro no bolso. Muito dinheiro no bolso. Dinheiro que poderia ser
usado para comprar remédio para o posto de saúde, por exemplo. Mas, parte do
dinheiro não chega a esta finalidade, porque todos estão acostumados com o fato
de ser muito rico ser igual a muitos privilégios. A controvérsia só existe
quando o dinheiro chega até os mais pobres. É o caso do PROUNI.
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Com o PROUNI, ao invés de
gastar dinheiro com aviões e festas, os donos de faculdades tiveram que “dar”
bolsa de estudos. A lei pode não ser perfeita, mas ajudou centenas de milhares
de pessoas estudarem. Centenas de milhares de bolsas de estudas dá uma dimensão
do dinheiro que estes multimilionários embolsaram durante a ditadura, governos
Collor, Itamar, Sarney e FHC. É muito dinheiro. Na época da aprovação da lei
(governo Lula), a Rede Globo (sempre ela) fez reportagens para mostrar que a
lei do PROUNI seria ruim para os estudantes (dessa vez ela perdeu). Houve e há
controvérsias, ainda tem gente querendo acabar com “este absurdo” (1).
É verdade que falta
dinheiro no Brasil. A solução para alguns: acabar com o Bolsa Família. Afinal,
dinheiro que vai para os mais pobres é motivo de polêmica. A história se
repete. São pessoas acostumadas com o fato dos multimilionários terem direitos
sem serem contestados.
Todos os anos o Itau,
Brasdesco e Santander pagam bilhões de reais para os acionistas. Este pagamento
é uma renda, que NÃO paga imposto de renda. Não paga nada.
Você trabalha o mês
inteiro e paga imposto de renda. Você que é pobre ou da classe média paga
proporcionalmente muito mais impostos do que os beneficiários de suas ações de
empresas (2).
Não, não pense que o fato
destas pessoas não pagarem impostos incomoda. O que incomoda e é motivo de
polêmica é o dinheiro do Bolsa Família e de outros programas sociais.
São milhares de normas,
leis, regras e instruções que existem no Brasil com uma única finalidade:
manter a mesma cultura de privilégios que existe desde as capitanias
hereditárias.
Abaixo transcrevo uma
notícia site Poema - Política Econômica da Maioria (3)
“Refrigerantes são bebidas
que não possuem valor nutricional satisfatório. Pelo contrário: são ricos em
carboidratos, e mais nada. Diante disso, por que um governo daria incentivos
fiscais a corporações que produzem refrigerantes, bebidas que prejudicam o
organismo quando consumidas em excesso?
Não faz sentido, se o
objetivo de um governo é melhorar a qualidade de vida da população. Mas como
são as oligarquias que convertem seu poder econômico em poder de barganha junto
aos governos eleitos, o que ocorre são privilégios para corporações que, além
de obterem isenções, costumam deixar de pagar os seus impostos, como inclusive
demonstramos em posts recentes.
LEIA TAMBÉM: Sou o tipo de pessoa que vê beleza nas coisas mais simples e felicidade nas coisas mais bobas
No Rio de Janeiro, por
exemplo, a Coca e Pepsi devem R$ 280 milhões para o Estado do Rio de Janeiro, e
foram beneficiadas com renúncias fiscais equivalentes a R$ 337 milhões. Ou
seja, além de darem o "calote", ainda obtém benefícios fiscais
justamente no Estado do Rio de Janeiro, que mal consegue honrar seus
compromissos junto de seus servidores.
Vale lembrar que, entre
2007 e 2015, as renúncias fiscais do Governo do Rio de Janeiro somaram mais de
R$ 185 bilhões.
POR QUE TANTA ISENÇÃO?
Simples: as corporações
fazem "doações" de campanha (ou seria investimento?) e, em contrapartida,
recebem benefícios fiscais.”
Jean-Paul Sartre dizia: “Tu
és metade vítima e metade cúmplice como todos os outros”. O lema anarquista diz: “Ninguém é inocente”.
A organização de uma sociedade somente se mantém estável quando existe uma
ampla aceitação e concordância das pessoas que fazem parte dela. Como os
multimilionários são poucos, para manter esta concordância eles precisam de
amplo controle dos meios de doutrinação de uma sociedade: jornais, tvs, rádios,
internet, judiciário, polícia, escolas, entre outros.
A
História de São Francisco de Assis
Este fenômeno não é novo e
nem exclusivamente brasileiro. O mesmo aconteceu com São Francisco de Assis, na
Itália no Século XIII.
São Francisco... “olhou os
(leprosos) nos olhos, um por um. Eles se sentiram acolhidos e amados. Depois
colocou uma moeda na mão de cada um, beijando antes demoradamente a mão que
recebia. ... Enchia uma bacia de água morna, inclinava-se diante deles... e,
lentamente, ... lavava-os com delicadeza maternal, fazia-lhes um cuidadoso
curativo e lhes atava as feridas.” (4)
Algum tempo antes da cena
descrita acima, Francisco de Assis, filho de um rico mercador de Assis, bancava
banquetes enormes, com música e serestas, que varavam a noite inteira. Ele era
o “rei da boemia” de Assis, esbanjava dinheiro com dezenas de jovens que bebiam
e comiam à suas custas.
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Concluindo:
a estrutura econômica é repleta de benefícios para os multimilionários. Um governo decente deve inverter este parâmetro: deve ser sempre PÃO DURO com esta “casta” superior. Isto deve acontecer, mas nunca vai acontecer sem luta e sem convencimento.
a estrutura econômica é repleta de benefícios para os multimilionários. Um governo decente deve inverter este parâmetro: deve ser sempre PÃO DURO com esta “casta” superior. Isto deve acontecer, mas nunca vai acontecer sem luta e sem convencimento.
(4) O Irmão de Assis, pág
65. Autor: Inácio Larranga. Ed Paulinas.
Regis Mesquita é o autor
do site Psicologia Racional e da
coluna “Comportamento Humano” no site Carta Campinas.
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Regis, texto fabuloso! Texto oriundo de um amor profundo, meu querido. O seu trabalho está em consonância com o bem maior. Busco inspiração pra servir e não me perde e agradeço a seu trabalho.
ResponderExcluirRealmente, texto muito bom. Obrigado, Régis.
ResponderExcluirPura verdade, as pessoas continuam com a mentalidade de que a "nobreza" tem privilégios decorrentes de alguma lei natural, quanto aos pobres, não devem ser ajudados pois são uns "sem-vergonha".
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